N 19094 – A Rainha D. Leonor. Exposição realizada pela Fundação Caloust
Gulbenkian no Mosteiro da Madre de Deus em Lisboa – Dezembro 1958. Muito
ilustrafo. 88 Pgs. 15x21cm.
Em 1958, comemoravam-se os 500 anos do nascimento da rainha D.
Leonor (1458-1525), mecenas e fundadora das Misericórdias em Portugal. A então
recém-criada Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) foi a precursora das
comemorações do aniversário da rainha, ao decidir organizar uma exposição
evocativa no Mosteiro da Madre de Deus, em Lisboa. A iniciativa da FCG
fundamentava-se no facto de «entre os seus fins estatutários» figurar «a
realização da caridade e a protecção das artes. A Rainha Dona Leonor foi, ao
mesmo tempo, uma alma dotada do mais puro amor do próximo e um espírito
devotado aos mais belos empreendimentos artísticos e culturais» (A Rainha D. Leonor: Exposição realizada
pela Fundação…, 1958).
Como
José de Azeredo Perdigão relatou em carta a Pedro Teotónio Pereira, em 18 de
abril de 1958, «meses depois de termos publicado a resolução de comemorar […] o
centenário do nascimento da Rainha D. Leonor, o Governo publicou uma portaria,
nomeando uma comissão encarregada de, por sua vez, organizar as comemorações oficiais»
(Carta de Azeredo Perdigão para Teotónio Pereira, 11 abr. 1958, Arquivos
Gulbenkian, PRES 00108). A FCG foi convidada a participar nessa Comissão
Nacional, acrescentando ao plano inicial da exposição uma nova secção dedicada
às Misericórdias.
Após as
obras de restauro do Mosteiro da Madre de Deus, levadas a cabo propositadamente
para a exposição e custeadas pela FCG, procedeu-se à organização da mostra. O
primeiro núcleo dizia respeito à caracterização do período em que viveu a
rainha D. Leonor, destacando-se personalidades, monumentos e acontecimentos
culturais e políticos. Neste núcleo, apresentava-se uma síntese cronológica da
vida da rainha, com elementos sobre a sua ação na área da assistência e das
artes, e as localidades portuguesas relacionadas com D. Leonor.
O
segundo núcleo dizia respeito ao apoio da rainha às artes, através da promoção
de obras arquitetónicas, da encomenda de pintura flamenga e portuguesa, de
incunábulos (obras impressas antes do século XVI) e de peças de teatro a Gil
Vicente, de quem foi protetora. Esta temática ocupava as salas do segundo piso,
com ligação à sala de Santo António e ao coro alto, que integravam também o
percurso.
A
história das Misericórdias ocupava o segundo piso do claustro joanino,
fazendo-se referência aos estabelecimentos de assistência que as antecederam
(espécies manuscritas). Ilustrava-se o património das Misericórdias através dos
seus edifícios, reproduzidos fotograficamente, e de peças de valor histórico e
artístico, provenientes de várias partes do país. As bandeiras de diferentes
Misericórdias e as representações da Nossa Senhora da Misericórdia tinham ampla
presença.
A
exposição terminava na capela do piso térreo, junto à entrada da igreja, que é
antecedida pelo túmulo raso de D. Leonor, destacado por um foco de luz. Na
capela, espaço remanescente do primitivo mosteiro, encontravam-se alguns
objetos de uso pessoal da rainha e a descrição da transladação do seu corpo
para a atual sepultura.
Esta
exposição era vocacionada, segundo Maria José de Mendonça, para «um grande
público, mais do que particularmente a investigadores e eruditos» (Mendonça, Colóquio. Revista de Artes e Letras,
n.º 2, mar. 1959, p. 20).
A
montagem da exposição, dirigida por Conceição Silva, teve grande impacto.
Vários elementos terão criado um contexto cenográfico, que desencadeou também
uma impressão emotiva: a reunião na Madre de Deus de obras de arte inseridas em
núcleos, mas respirando autonomamente, permitindo ao visitante uma relação mais
íntima; todos os elementos contextualizadores e iconográficos, também eles
individualizados; os ritmos provocados pelos suportes expositivos e pelas
divisões do mosteiro; a criação ou valorização de momentos de pausa (como o
claustro com a recriação dos túmulos de D. João I e D. Filipa, a sala de Santo
António e o coro da igreja); os efeitos de luzes, a música e o conforto
decorrente do aquecimento do espaço.
Leonor de Oliveira,
2014
Portes Grátis
Para venda: 18€
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