domingo, 2 de janeiro de 2022







 

N 14329 -  Padre Manuel Bernardes, C.O. 1644-1710, Nova Floresta, ou sylva de varios apophthegmas, e ditos sentenciosos espirituaes, e moraes, com reflexoens, em que o util da doutrina se acompanha com o vario da erudiçaõ, assim Divina, como humana: offerecida, e dedicada à Soberana Mãy da Divina Graça Maria Santissima Senhora Nossa / pelo Padre Manoel Bernardes da Congregaçaõ do Oratorio de Lisboa.  Terceyro tomo. – 1ª Edição  Lisboa : na Officina de Valentim da Costa Deslandes, Impressor de Sua Magestade, 1709. 538 Pgs. 15x21cm. Encadernação em inteira de pele da época. Pequeno defeito no canto inferior direito das primeiras 65 páginas, fora do texto.

 

O que explica logo o conteúdo do livro é uma série de apólogos morais, cada um deles constituído de duas partes: na primeira, o escritor narra um "caso", uma história de fundo moral ou exemplar, e na segunda, comenta-a extraindo-lhe a mensagem edificante

Percebe-se que em sua época o problema da impunidade com relação a criminosos homicidas e estupradores é semelhante ao que se apresenta hoje no Brasil, conforme o trecho abaixo:

De Margarida, duquesa de Mântua. Sendo governadora deste reino perdoou uma morte, e o facínora cometeu depois outra, pela qual sendo outra vez preso, e sentenciado, e tornando a enviar intercessores para o perdão, respondeu a duquesa: Da primeira morte dará ele conta a Deus, da segunda eu. E mandou fazer justiça.

Conclusão: Muita indulgência, em lugar de arrancar os pecados, os semeia. Senhor da vida do criminoso é o Príncipe Soberano, para lhe perdoar a morte, porém não é Senhor das vidas, e honras dos inocentes para expô-las a perigo. E quem não vê que a mão que abrir a jaula de uma fera será culpada nas rapinas e sanguinolências que suas garras obrarem?[4]

Outra passagem sobre a mesma temática é o seguinte:

De Zeno, Principe dos Filósofos Estoicos. Tinha ele na sua Escola hum criado, a quem ensinava também os dogmas daquela seita, da moderação das paixões, e sossego das adversidades, atribuindo tudo ao fado. Sucedeu furta-lhe o criado não sei que, por onde o amo lhe pareceu necessário castiga-lo: e a o levar o castigo, se defendia com a doutrina Estoica, dizendo: Fatale mihi fuit furari; “foy fado [o destino], que eu furtasse”. Responde-o o amo: Et caedi; “e também foi fado [destino], que te açoutasse”.

Paralelo, e Reflexão: Semelhante caso sucedeu em Inglaterra, onde hum ladrão [de religião] Calvinista, allegando por seu descargo, que era predestinado para furtar, o Juiz lhe disse: “E eu sou predestinado para vos mandar enforcar.

Outro trecho sobre justiça diz:

De Thomas More. Este valoroso Chanceler da Inglaterra, caindo-lhe nas mãos a causa de um capital inimigo seu, sentenciou a seu favor, porque lhe achou justiça. A um, que lhe tocou neste ponto, mostrando admirar-se de sua inteireza, respondeu: “Que tem a minha ofensa particular com o meu ofício público?”.

Conclusão: [...] E isto é o que o Papa Inocêncio III chamou de inclinar a justiça ao espírito, em vez de inclinar o espírito à justiça: Vos o Judices non attenditis merita causarum, sed merita personarum... non quod ratio dictet, sed quod voluntas affectet; non quod jus sentiat, sed quod mens capiat: non inclinatis animum ad justitiam, sed justitiam inclinatis ad animum [“Vós oh juízes, não julgueis o mérito das causas, mas o mérito das pessoas... não o que a razão dita, mas o que a vontade quer; não o que a lei entende, mas o que a mente compreende; não inclineis o espírito para a justiça, mas a justiça para o espírito. “] E é o que respectivamente fizeram os heresiarcas nas matérias do que se havia de crer, que uma vez que a verdadeira Fé repugnava os seus depravados costumes inventaram outra fé, que concordasse com eles. Porque todas as vezes que a razão milita contra a paixão - quem não quer largar esta, nem ser repreendido por aquela - faz por entender que a sua paixão é a razão

 

Portes Grátis

Para venda: 70€

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