quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Jean Laurent



Jean Laurent (fotógrafo)

Jean Laurent ou Juan Laurent Minier (Garchizy, Nevers (França), 23 de julho de 1816Madrid, 24 de novembro de 1886) foi um dos mais importantes fotógrafos que trabalharam na Espanha no século XIX.
Estabelecido em Madrid em 1843, começou a interessar-se pela fotografia em 1855, tomando vistas panorâmicas de cidades, paisagens, monumentos, obras públicas e obras de arte da península Ibérica; bem como retratando personalidades e tipos populares
Nasceu em Garchizy, Nevers (França) a 23 de julho de 1816,[1] e mudou-se a Madrid em 1843,[2] onde se identificaria com o nome de Juan, em lugar do original francês Jean, embora sempre assinasse as suas obras como "J. Laurent". Em Madrid casou-se com a viúva de um pasteleiro.
Há teorias que supõem que manteve um gabinete de daguerreótipos em Paris (França), ou até mesmo que começou o seu trabalho de fotógrafo nessa cidade, embora estas afirmações fossem desmentidas. É preciso levar em conta, além disso, que tanto o nome Jean quanto o sobrenome Laurent são muito comuns no país gaulês, pelo qual não seria difícil que existisse outro J. Laurent em Paris nesse tempo que fora daguerreotipista. Assim, é sabido que em São Petersburgo (Rússia) trabalhava por essa época um fotógrafo com o mesmo sobrenome Laurent.
Até 1855 trabalhou como cartonador, dedicando-se à fabricação de luxuosas caixas para pastelarias e de papéis marmorados, para encadernações de livros. Esse mesmo ano interessou-se pela fotografia, coloreando cópias em papel, e pelos avanços tecnológicos do momento, que chegou a dominar. No ano seguinte estabeleceu o seu estudo fotográfico na rua Carrera de San Jerónimo, número 39, de Madrid (perto do Congresso dos Deputados, e começou a sua atividade como fotógrafo profissional.
Ostentou o título de "Fotógrafo de Sua Majestade a Rainha" durante o período de 1861 a 1868. Desde 1861 tinha uma coleção de fotografias à venda, entre as que figuravam obras do Museu do Prado.[3]
Em 1868 abriu na Rue de Richelieu de Paris uma loja (que não estudo fotográfico), na qual um empregado vendia as suas fotografias da Espanha e Portugal.
Na sua atividade profissional trabalhou com vários colaboradores, entre os que se destaca Alfonso Roswag, genro seu. Em 1883 figurava como proprietária do seu arquivo a sua enteada Catalina Melina Dosch de Roswag.
Juan Laurent faleceu em Madrid a 24 de novembro de 1886,[4] e foi enterrado ao dia seguinte no cemitério de La Almudena, então chamado cemitério do Este. Na sua lápide foi grabado o seu nome espanholizado: Juan.
J. Laurent destacou-se sempre por se manter atualizado nos avanços tecnológicos que se produziam na fotografia do século XIX. Ele próprio inventou e introduziu várias técnicas como o papel leptográfico (com o fotógrafo espanhol José Martínez Sánchez, em 1866),[5] que se vendia já sensibilizado; ou um novo sistema de coloreado.
Usava a ferrovia para os seus deslocamentos pela península Ibérica, e empregava uma pequena carruagem ou "carro-laboratório" de campanha, onde preparava e revelava as suas placas de vidro ao colodion. Os negativos de colodion eram totalmente artesanais e davam uma grande nitidez.
No Instituto do Patrimonio Cultural de España (IPCE), do Ministério de Cultura, na Cidade Universitária de Madrid, conservam-se cerca de 12 000 negativos originais de vidro ao colodion úmido, de J. Laurent, e J. Laurent e Companhia; no Arquivo fotográfico Ruiz Vernacci. Destes negativos, 9500 são do formato 27 x 36 centímetros, e 1000 são placas estereoscópicas do formato 13 x 18 cm. Mas os negativos maiores conservados de Laurent são do gigantesco formato 27 x 60 cm.
A partir dos negativos originais de Laurent, na segunda metade do século XIX foram obtidas cópias em papel em albumina. Cópias positivas da época de Laurent conservam-se em numerosas instituições: Palácio Real de Madrid, Museu Municipal de Madrid, Fundo Fotográfico da Universidade de Navarra, Biblioteca Nacional de Espanha, ou no Instituto do Patrimônio Cultural de Espanha. Mas também em instituições estrangeiras tais como o Museu de Belas Artes da Lituânia (Lietuvos dailes muziejus), em Vilnius; ou o antigo Palácio Real de Lisboa, hoje conhecido como Palácio Nacional da Ajuda. A produção da Casa Laurent foi imensa.
As primeiras fotografias de Laurent foram retratos de estudo, mas em 1857 começou a viajar fora de Madrid, tomando vistas estereoscópicas (que podiam ver-se em três dimensões com um visor apropriado). Em 1858 realizou a sua primeira grande reportagem, sobre a linha ferroviária de Madrid a Alicante, por encomenda da companhia MZA. Na Biblioteca do Palácio Real de Madrid conserva-se uma pasta que contém essas fotografias que foram obsequiadas à rainha Isabel II. Paralelamente conservam-se negativos originais, como o da estação de Sax, no Instituto do Patrimônio Cultural de Espanha.
A Casa Laurent publicou sucessivos catálogos que relacionavam as suas fotografias à venda. Contêm listagens com os números e títulos das fotografias, agrupadas por temas e províncias. Conhecem-se edições dos catálogos de Laurent dos anos: 1861, 1863, 1866, 1867, 1868, 1872, 1879 e 1880. Estes catálogos são imprescindíveis para datar corretamente as vistas.

Os seus catálogos

Em 1861 editou o folheto intitulado: Catálogo de los Retratos que se venden en casa de J. Laurent, Fotógrafo de S. M. la Reina (Madrid, Imprensa de Manuel de Rojas, 1861). A listagem começa com uma relação de diferentes imagens de Isabel II, em traje de grande solenidade, mas também bordando, ou com mantilha. Seguem outros membros da família real, ministros, generais, deputados, atores, pintores, músicos, artistas de circo, e celebridades diversas, como o Excmo. Sr. D. José de Salamanca. (Capitalista). Finaliza o catálogo com uma lista de pinturas do Museu do Prado.
Catálogo de Laurent, 1ª edição, ano 1861.
Em 1863 ampliou o seu catálogo, adicionando 268 vistas de exteriores, e fotografias das principais obras da Exposição Nacional de Belas Artes de 1862. O novo folheto titulou-se: Catálogo de las fotografias que se venden en casa de J. Laurent,... [6] Relacionavam-se vistas de Madrid, Alcalá de Henares, El Escorial, Aranjuez, Toledo, Segóvia, La Granja, Alhama de Aragão, Monasterio de Piedra, Cuenca, Alicante, Sax, Barcelona, Córdova, Granada, Málaga, Ronda, Gibraltar, Sevilha, Tetuão, e a esquadra espanhola fundeada na baía de Alicante. Laurent embarcou em diferentes navios, como a corveta Colón, fotografiando oficiais e marinheiros nos seus postos de combate.
O catálogo de 1867, [7] foi um livro redigido em francês, embora impresso em Madrid. A partir de então utilizou a língua francesa para captar clientes estrangeiros. Esta vez oferecia as vistas em grande formato, a partir de negativos de vidro de 27 x 36 centímetros. Entre outros temas incluiu amplos reportagens das linhas ferroviárias de Madrid a Saragoça, e de Logronho a Bilbao. Também comercializava outras vistas de outras cidades espanholas.
Não todas essas fotografias foram tomadas pessoalmente por Laurent. Por exemplo, no Inverno de 1866-1867, Laurent e Martínez Sánchez repartiram o trabalho para realizar conjuntamente uns álbumes de Obras Públicas de España, para a Exposição Universal de Paris de 1867. Assim, as fotografias de pontes, faróis, canteiras e portos do Leste da Península (Tarragona, Valência,…) foram tomadas por Martínez Sánchez; mas os seus negativos foram incorporados ao arquivo de Laurent.
Além das fotografias que vendia por catálogo, Laurent tomava outras vistas por encomenda. Por exemplo, entre 1863 e 1866, Laurent fotografiou as Pinturas negras de Goya, na sua situação original nas paredes da Quinta del Sordo. Estas fotografias foram encomendadas pelo então proprietário da casa, o financeiro belga Rodolfo Coumont.[8]
Outra especialidade de Laurent foi a aplicação de fotografias nos leques, a partir de 1864, obtendo um Real Privilégio de Invenção na Espanha, e uma patente na França. Em vários museus conservam-se leques ilustrados e montados com fotografias de retratos de toureiros, formando um mosaico pregável. Assim, o Museu Tèxtil, [9] ou Museu Têxtil de Terrassa; o Museu Frederic Marès de Barcelona; o Museu Provincial de Ávila, ou as Bodegas Osborne, do Puerto de Santa Maria, contam nas suas coleções com leques de Laurent, que têm pegados numerosos retratos de toureiros da época, como Cúchares, Lagartijo ou Frascuelo.

Bibliografia

  • GUTIÉRREZ MARTÍNEZ, Ana; NÁJERA COLINO, Purificación, Jean Laurent en el Museo Municipal de Madrid. Retratos. Artistas plásticos, cat. Purificación Nájera Colino, Madrid, Museo Municipal de Madrid, 2005, 3 tomos. Tomo I. ISBN 84-7812-591-4. Tomo II. ISBN 84-7812-623-6. Tomo III. ISBN 84-7812-644-9
  • GUTIÉRREZ MARTÍNEZ, Ana, et al., Segovia en tres tiempos. Fotografías de Laurent, Moreno y Loty. 1856-1936, Madrid, Fundación Mapfre e Ministerio de Cultura, 2006. ISBN 978-84-9844-016-4
  • MARTOS CAUSAPÉ, José Félix, José Antonio Ruiz Rojo y Ana Gutiérrez, La Casa Laurent y Guadalajara. Fotografías, 1862-1902, Guadalajara, Diputación Provincial, 2007. ISBN 978-84-87791-90-1
  • MATULYTE, Margaritȧ, Evaldas Galvanauskas y Carlos Teixidor Cadenas, ¡Hola, España! XIX amziaus Ispanijos fotografijos. Fotografías de la España del siglo XIX, Vilnius (Lituania), Lietuvos dailes muziejus y Ministerio de Cultura de España, 2005. ISBN 9986-669-47-2. Livro impreso na Lituania. Edición bilingüe en lituano e castelhano.
  • TEIXIDOR CADENAS, Carlos, «Fotografías de Sevilla, años 1857-1880, por Juan Laurent», en Sevilla artística y monumental. 1857-1880. Fotografías de J. Laurent, Madrid, Fundación Mapfre e Ministerio de Cultura, 2008, pp. 20-45. ISBN 978-84-9844-114-7
  • VV. AA., La colección fotográfica Laurent en el Museo Textil de la Universidad Complutense de Madrid. Tipos y trajes populares, Madrid, Universidade Complutense de Madrid, 2009. ISBN 978-84-692-7188-9

Referências

  1. Carlos Teixidor (junho de 2001). Universidade do Arizona. The college of fine arts.:[http ://www.cfa.arizona.edu/laurent/texmenes.htm Jean Laurent. Textos. Un tal Laurent : Datos comprobados y errores publicados.] (em espanhol).
  2. López Mondéjar, P. (1999) Historia de la fotografía en España, 45
  3. Fontanella, L. (1981) La historia de la Fotografía en España desde sus orígenes hasta 1900, 137
  4. Carlos Teixidor, "Fotografias de Sevilla, años 1857-1880, por Juan Laurent", pág. 26. Cfr. Bibliografia.
  5. Kurtz, Gerardo F. (2001) "Origen de um medio gráfico y un arte. Antecedentes, comienzo y desarrollo de la fotografía en España". Em: Summa Artis. Historia General del Arte. Vol. XLVII. La fotografía en España: de los orígenes al siglo XXI, Madrid, Espasa Calpe, S. A., 2001, pág. 168. ISBN 84-239-5492-7 (Tomo 47).
  6. (1863), J. Laurent, Catálogo de las fotografías que se venden en casa de J. Laurent, fotógrafo de S. M. la Reina y de SS. AA. RR. los Sermos. (Serenísimos) Infantes de España. Celebridades contemporáneas.- Trajes y costumbres nacionales.- Vistas estereoscópicas de España y de Tetuán.- Obras artísticas
  7. (1867), J. Laurent, Catalogue des principaux tableaux des musées d'Espagne reproduits en photographie (...) Suivi d'un Catalogue de quelques tableaux modernes des principaux monuments d'Espagne
  8. María del Carmen Torrecillas Fernández, "Las pinturas de la Quinta del Sordo fotografiadas por J. Laurent", Boletim do Museu do Prado, tomo XIII, número 31, 1992, pág. 57 e ss.
  9. Sara Badía Villaseca, "El más bello abanico fotográfico de J. Laurent". Em revista Datatèxtil, nº 20, Terrassa, julho de 2009, pág. 4 e ss.
  • Este artigo foi inicialmente traduzido do artigo da Wikipédia em espanhol cujo título é J. Laurent.

 Ligações externas


Terça-feira, 17 de Novembro de 2009

J. Laurent e

Portugal - Fotografia do século XIX

14 Outubro, 2009

J. Laurent
Não são muitos os exemplos de registo fotográfico metódico da monumentalidade e das vistas pittorescas no Portugal da segunda metade do século XIX. Há os levantamentos mais virados para a arquitectura de J. Possidónio Narciso da Silva, as edições do Archivo Pittoresco e de Monumentos Nacionaes e pouco mais. Já os fotógrafos estrangeiros que por cá passaram durante esse período não foram tão parcimoniosos. Como é o caso de J. Laurent (1816-1886), um francês que se estabeleceu em Madrid e que se deslocou várias vezes a Portugal, onde captou centenas de fotografias reproduzidas em álbuns como Œuvres d'Art en Photographie - L'Espagne et le Portugal au Point de vue artistique, monumentale et pittoresque (1872).
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J. Laurent e Portugal - Fotografia do século XIX é o título da exposição que será inaugurada no dia 17 de Outubro no Centro Português de Fotografia, no Porto. A mostra - organizada pela Associação Portuguesa de Photographia e produzida pelo CPF em parceria com a Torre do Tombo - integra provas oriundas de colecções privadas e instituições públicas. Ângela Camila Castelo-Branco e Alexandre Ramires (APPh) e Carlos Teixidor (curador dos espólios fotográficos de J. Laurent depositados no Instituto do Património Cultural de Espanha) são os comissários que trabalharam na vasta obra de Laurent relativa a Portugal que inclui imagens de monumentos, obras de arte, arquitectura e paisagens, vistas estereoscópicas e retrato.

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Em Abril de 2010, a exposição poderá ser vista na Torre do Tombo, em Lisb



J. Laurent e Portugal - Fotografia do século XIX


“J. Laurent e Portugal – Fotografia do século XIX” é uma exposição organizada pela APPh. - Associação Portuguesa de Photographia em parceria com a DGARQ - Direcção Geral de Arquivos/Torre do Tombo, integrando peças que pertencem a coleccionadores privados e a instituições oficiais.
A exposição procura divulgar o pleno dos trabalhos que J. Laurent fez em Portugal e tem como comissários Ângela Camila Castelo-Branco e Alexandre Ramires, sócios fundadores da APPh. e Carlos Teixidor curador dos espólios fotográficos de Laurent depositados no Instituto do Património Cultural de Espanha - IPCE, no arquivo fotográfico Ruiz Vernacci, Madrid.
J. Laurent (1816-1886), nasceu em França e manteve sempre a sua nacionalidade de origem, apesar de ter residido em Madrid durante 43 anos, cidade em que morreu. Jean, ou Juan, assinava J. Laurent.

Em 1856, abriu em Madrid, na Rua de São Jerónimo n.º 39, um estúdio fotográfico. Foi o começo de uma aventura que acabaria no maior levantamento fotográfico da Península Ibérica no século XIX.

As fotografias expostas são, na sua maioria impressas em papel albuminado, feitas a partir de negativos em vidro cujo processo de obtenção foi o colódio húmido.
A exposição apresenta-se uma parte dedicada aos monumentos e paisagens e às vistas estereoscópicas que Laurent efectuou em Portugal. Podemos ver também, os trabalhos que dizem respeito às séries A (pintura) e B (escultura) dedicadas às obras de arte que Laurent fotografou em Portugal e Espanha, em instituições e museus, especialmente na Academia Real de Lisboa, na Academia Real de Belas Artes de Lisboa, no Museu do Prado, em Madrid, ou no Museu de Belas Artes de Sevilha. Uma parte da exposição é dedicada ao retrato onde podemos ver os Reis D. Fernando II e D. Luís, o Príncipe D. Carlos e o Infante D. Afonso, fotografados em Portugal. Podem ser vistas também, fotografias da família real espanhola, bem como de outras figuras da política do país vizinho, como, por exemplo, a fotografia do Governo Provisório, constituído após a revolução de Setembro de 1868 – iniciada em Cádiz pelo General Prim -, além de algumas carte de visite com os membros do Primeiro Governo Provisório. Uma parte da exposição é dedicada a paisagens, vistas urbanas, arquitectura e obras públicas em Espanha e contém elementos biográficos do autor, numa síntese que contém os aspectos mais relevantes da sua obra.

J. Laurent Galeria de retratos

No início da sua actividade em 1856, quando J. Laurent abriu o seu estúdio fotográfico na Rua de São Gerónimo, n.º 39, em Madrid, o retrato era a sua principal fonte de receita. No cabeçalho das facturas da Casa Laurent lia-se “J. Laurent / Reproducciones de todas clases y retratos todos los días excepto los festivos / además poseen retratos de la familia Real, así como la colección de los personajes más célebres de España.”.
Em 1861, edita o seu primeiro catálogo: o “Catálogo de los retratos que se venden en casa de J. Laurent” listando 180 títulos de personalidades, a começar pela Rainha Isabel II e seus familiares, e 78 reproduções de quadros do Museu do Prado. No mesmo ano, Laurent já ostentava nas suas fotografias as armas da família real espanhola e a legenda “Fotógrafo de S. M. la Reina”.
Quando Isabel II foi destronada em 1868, Laurent apaga do seu carro-laboratório todas as referências à monarquia e rasura em todos os cartões a designação de fotógrafo de S. M. a Rainha de Espanha. Fotografa, então, o Primeiro Governo Provisório e, individualmente, muitos dos seus membros.
No ano seguinte, Laurent viaja para Portugal, onde fotografa a família real de Bragança, os Reis D. Fernando II e D. Luís I, o Príncipe D. Carlos e o Infante D. Afonso.
Em 1866, J. Laurent e José Mártinez Sánchez (1808-1874) inventaram, ou mais provavelmente aperfeiçoaram, o processo de impressão em papel designado por leptográfico e constituíram a Leptografía Laurent. No mesmo ano patentearam o processo e divulgaram-no em França no Bulletin de la Société Française de Photographie. Nesse país foi constituída a Société Leptographique que produziu e comercializou este papel na Europa. O papel leptográfico era mais sensível que o papel albuminado e permitia a obtenção de brancos mais puros. Ao contrário do papel albuminado, este era comercializado já sensibilizado embora substancialmente mais caro.
O retrato foi a primeira actividade do fotógrafo e aquela que se nos revela menos conhecida.
Destaca-se nesta exposição um retrato do toureiro José Gordón, El Gordito, ca. 1865-68, em formato carte de visite: uma imagem fotográfica colorida a óleo, tirada em estúdio, apenas com um tapete, um fundo liso e uma cabeça de touro embalsamada, para lhe conferir realismo e, também, uma reprodução em tamanho natural (160x130 cm), da fotografia do Príncipe D. Carlos e do seu irmão o Infante D. Afonso, assinada J. Laurent, cujo original - que se deseja venha a ser restaurado - faz parte do acervo fotográfico do Palácio Nacional da Ajuda.





J. Laurent Vistas e monumentos


O número das fotografias de paisagens e monumentos que Laurent fez de Portugal situa-se entre a Basílica da Estrela n.º 800 e a Torre do Aqueduto de Évora n.º 885 da série “C”. As obras de arte de pintura e escultura têm outra numeração dentro de outras séries: “A” para a pintura, “B” para a escultura e uma série “S” reservada às estereoscopias. Segundo Carlos Teixidor, Laurent terá feito cerca de 450 negativos em Portugal, correspondentes a cerca de 200 títulos diferentes.

Encontram-se actualmente em depósito em Madrid no Instituto do Património Cultural de Espanha, no arquivo fotográfico Ruiz Vernacci, 230 negativos de vidro em colódio sobre Portugal: 12 no excepcional formato panorâmico de 27x60 centímetros cada parte, 143 no formato 27x36 cm e as 75 placas restantes estereoscópicas em 13x18 centímetros.

As vistas e monumentos que Laurent fez em Portugal devem ser apreciados tendo em atenção a rede ferroviária dos caminhos-de-ferro então existente no nosso território, iniciada que foi em 1856 com o troço entre Lisboa e o Carregado. Dava, pois, os primeiros passos, quando em 1869 J. Laurent fotografou Portugal. O fotógrafo deslocava-se de comboio devido à quantidade de material necessário para a obtenção dos negativos em vidro de colódio húmido que tinham de ser sensibilizados e revelados no local onde se fotografava.
Laurent fotografou em Setúbal, cidade a que se chegava pela linha do Sado, aberta em 1861, num troço a partir do Pinhal Novo. Fotografou em Évora onde as locomotivas chegaram em 1863 pela linha do Sul, fazendo a ligação à fronteira espanhola pela Linha de Leste, no mesmo ano em que a rede ferroviária chegou a Badajoz e aguardava ligação a Madrid.

Em 1867, o governo autoriza a construção da linha do Douro, que só ficará concluída em 1887; em 1875, circulará o primeiro comboio a norte do Douro, enquanto a ligação ferroviária entre Lisboa e o Porto só foi possível em 1877, depois da construção da Ponte D. Maria Pia. De facto, em algumas localidades, não terá sido possível a J. Laurent chegar através da ferrovia; assim acontecia em Braga onde o comboio ainda não tinha chegado em 1869 ou em Sintra onde só chega em 1873. Mas tal não foi impedimento para que o fotógrafo se deslocasse a Braga e a Guimarães, nem tão pouco a Sintra e aos Palácios da Pena e de Monserrate, no alto da serra.

Segundo Carlos Teixidor, Évora pode ter sido a última cidade portuguesa a ser fotografada por Laurent; se tivermos em conta a numeração nos seus catálogos, verificamos que, imediatamente a seguir ao n.º 885, o Aqueduto de Évora, temos o n.º 886 que já corresponde à cidade de Cáceres.

J. Laurent A fotografia de obras de arte.

J. Laurent fotografou inúmeras obras de arte: detalhes de arquitectura, mobiliário, escultura, armaria, ourivesaria, tapeçaria e pintura, no Museu do Prado, na Real Academia de Belas Artes de São Fernando, na Armería de Madrid, na Colecção de Lázaro Galdiano e no Museu de Belas Artes de Sevilha. Em Portugal, fotografou obras de ourivesaria, pintura e escultura, existentes em várias instituições e colecções particulares. No Palácio Real da Ajuda, fotografou objectos pessoais pertencentes a D. Luís, a D. Fernando e ao Marquês de Souza-Holstein; no então Palácio Real de Belém, fotografou o Coche de Gala do Rei D. João V.
Fotografou pintura e escultura na Academia Real de Belas-Artes de Lisboa e na Academia Real de Lisboa, hoje Academia de Ciências de Lisboa, onde se encontravam as obras do Museu Mainense do extinto Convento Nossa Senhora de Jesus. No catálogo de 1879 são referenciados trabalhos de artistas de grande importância como: Josefa Ayalla (Josefa d’Óbidos), F. Vieira de Matos (Vieira Lusitano), Amaro do Vale, Pedro Alexandrino e Domingos António de Sequeira. Fotografou, ainda, a Custódia de Belém e a Cruz de D. Sancho I e, na Biblioteca de Évora, um baixo-relevo em ardósia que representa uma contenda entre judeus e fariseus e o tríptico de Limoges atribuído a Nardon Pénicaud (1470-c.1543), e que terá pertencido a Francisco I, rei de França, e depois ao imperador Carlos V. Infelizmente, as albuminas de Laurent reproduzindo obras da pintura e escultura portuguesas são hoje muito raras.
Sousa Viterbo (1843-1910) dizia: “[...] é de urgente e inadiável necessidade, entrar com desassombro na elaboração do inventário dos objectos artísticos disseminados por todo o país[...]”. Lamentavelmente, no que diz respeito à fotografia como obra, a preocupação de Sousa Viterbo mantém-se actual, devendo notar-se que o trabalho de Laurent em Portugal revela-se da maior importância para a inventariação e divulgação qualificada da imagem do património que o próprio fotografou em Portugal. Algumas das fotografias feitas em Portugal foram passadas a gravura e publicadas em muitas revistas portuguesas e internacionQuarta-feira, Novembro 04, 2009

J. Laurent e Portugal - Fotografia do século XIX

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“J. Laurent e Portugal – Fotografia do século XIX” é uma exposição organizada pela APPh. - Associação Portuguesa de Photographia e produzida pelo Centro Português de Fotografia, em parceria com a Torre do Tombo, ambos arquivos dependentes da DGARQ - Direcção Geral de Arquivos, integrando peças que pertencem a coleccionadores privados e a instituições oficiais.
A exposição procura divulgar o pleno dos trabalhos que J. Laurent fez em Portugal e tem como comissários Ângela Camila Castelo-Branco e Alexandre Ramires, sócios fundadores da APPh. e Carlos Teixidor, curador dos espólios fotográficos de Laurent depositados no Instituto do Património Cultural de Espanha - IPCE, no arquivo fotográfico Ruiz Vernacci, Madrid.
J. Laurent (1816-1886), nasceu em França e manteve sempre a sua nacionalidade de origem, apesar de ter residido em Madrid durante 43 anos, cidade em que morreu. Jean, ou Juan, assinava J. Laurent.
Em 1856, abriu em Madrid, na Rua de São Jerónimo n.º 39, um estúdio fotográfico. Foi o começo de uma aventura que acabaria no maior levantamento fotográfico da Península Ibérica no século XIX.
As fotografias expostas são, na sua maioria impressas em papel albuminado, feitas a partir de negativos em vidro cujo processo de obtenção foi o colódio húmido.
A exposição apresenta-se distribuída por várias enxovias do edifício da Cadeia da Relação do Porto. Assim, temos na
enxovia do Senhor de Matosinhos a parte dedicada aos monumentos e paisagens e às vistas estereoscópicas que Laurent efectuou em Portugal.
Na
enxovia de Santa Teresa podemos ver os trabalhos que dizem respeito às séries A (pintura) e B (escultura) dedicadas às obras de arte que Laurent fotografou em Portugal e Espanha, em instituições e museus, especialmente na Academia Real de Lisboa, na Academia Real de Belas Artes portuguesa, no Museu do Prado, em Madrid, ou no Museu de Belas Artes de Sevilha.
A
enxovia de Santa Ana é dedicada ao retrato; aí podem ser vistas imagens dos Reis D. Fernando II e D. Luís, do Príncipe D. Carlos e do Infante D. Afonso, todas obtidas em Portugal. Nesta sala, podemos ver também fotografias da família real espanhola, bem como outras figuras da política do país vizinho, como, por exemplo, a fotografia do Governo Provisório, constituído após a revolução de Setembro de 1868 – iniciada em Cádiz pelo General Prim -, além de algumas carte de visite com os membros desse mesmo Primeiro Governo Provisório.
A
enxovia de Santo António é dedicada a paisagens, vistas urbanas, arquitectura e obras públicas em Espanha e contém elementos biográficos do autor, numa síntese com os aspectos mais relevantes da sua obra.
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J. Laurent na ex- Cadeia e Tribunal da Relação do Porto.

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J. Laurent
Vistas e monumentos
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O número das fotografias de paisagens e monumentos que Laurent fez de Portugal situa-se entre a Basílica da Estrela n.º 800 e a Torre do Aqueduto de Évora n.º 885 da série “C”. As obras de arte de pintura e escultura têm outra numeração dentro de outras séries: “A” para a pintura, “B” para a escultura e uma série “S” reservada às estereoscopias. Segundo Carlos Teixidor, Laurent terá feito cerca de 450 negativos em Portugal, correspondentes a cerca de 200 títulos diferentes.
Encontram-se actualmente em depósito em Madrid no “Instituto do Património Cultural de Espanha”, no arquivo fotográfico Ruiz Vernacci, 230 negativos de vidro em colódio sobre Portugal: 12 no excepcional formato panorâmico de 27x60 centímetros cada parte, 143 no formato 27x36 cm e as 75 placas restantes estereoscópicas em 13x18 centímetros.
As vistas e monumentos que Laurent fez em Portugal devem ser apreciados tendo em atenção a rede ferroviária dos caminhos-de-ferro então existente no nosso território, iniciada que foi em 1856 com o troço entre Lisboa e o Carregado. Dava, pois, os primeiros passos, quando em 1869 J. Laurent fotografou Portugal. O artista deslocava-se de comboio devido à quantidade de material necessário para a obtenção dos negativos em vidro de colódio húmido que tinham de ser sensibilizados e revelados no local onde se fotografava.
Laurent fotografou em Setúbal, cidade a que se chegava pela linha do Sado, aberta em 1861, num troço a partir do Pinhal Novo. Fotografou em Évora onde as locomotivas chegaram em 1863 pela linha do Sul, fazendo a ligação à fronteira espanhola pela Linha de Leste, no mesmo ano em que a rede ferroviária chegou a Badajoz e aguardava ligação a Madrid.
Em 1867, o governo autoriza a construção da linha do Douro, que só ficará concluída em 1887; em 1875, circulará o primeiro comboio a norte do Douro, enquanto a ligação ferroviária entre Lisboa e o Porto só foi possível em 1877, depois da construção da Ponte D. Maria Pia. De facto, em algumas localidades, não terá sido possível a J. Laurent chegar através da ferrovia; assim acontecia em Braga onde o comboio ainda não tinha chegado em 1869 ou em Sintra onde só chega em 1873. Mas tal não foi impedimento para que o fotógrafo se deslocasse a Braga, nem tão pouco a Sintra e aos Palácios da Pena e de Monserrat, no alto da serra.
Segundo Carlos Teixidor, Évora pode ter sido a última cidade portuguesa a ser fotografada por Laurent; se tivermos em conta a numeração nos seus catálogos, verificamos que, imediatamente a seguir ao n.º 875, o Aqueduto de Évora, segue-se o n.º 886 que já corresponde à cidade de Cáceres.
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J. Laurent
Galeria de retratos

.No início da sua actividade em 1856, quando abriu estúdio na Rua de São Jerónimo, n.º 39, em Madrid, o retrato era a principal fonte de receita de J. Laurent.
“J. Laurent / Reproducciones de todas clases y retratos todos los dias excepto los festivos / además poseen retratos de la família Real, así como la colección de los personajes más célebres de España.”, lia-se no cabeçalho das facturas da Casa Laurent.
Em 1861, edita o seu primeiro catálogo: o “Catálogo de los retratos que se venden en casa de J. Laurent” lista 180 títulos, de personalidades a começar pela Rainha Isabel II e seus familiares e 78 reproduções de quadros do Museu do Prado. Em 1861, Laurent já ostentava nas suas fotografias as armas da família real espanhola e a legenda “Fotógrafo de S. M. a Rainha”.
Laurent começou por ser um retratista. No dia 30 de Abril de 1866 na publicação “La Lumière” lia-se sobre a descoberta de Martinez-Sanchez e de Laurent, o papel leptográfico. Uma descoberta que anunciava o fim das albuminas e o inicio da comercialização de papeis previamente sensibilizados. Alguns dos retratos da casa Laurent foram impressos em papel leptográfico.
Quando Isabel II foi destronada em 1868, Laurent apaga do seu carro laboratório todas as referências à monarquia e rasura em todos os cartões a designação de fotógrafo de S. M. a Rainha de Espanha. Fotografa, então, o Primeiro Governo Provisório constituído depois da revolução de Setembro de 1868 e alguns dos seus membros e intervenientes: o General Badomero Espartero, Luis Zorrilla, Almirante Topete, Rivero e Madoz.
No ano seguinte, 1869, Laurent viaja para Portugal, onde fotografa a família real de Bragança, os Reis D. Fernando II e D. Luís I, o Príncipe D. Carlos e o Infante D. Afonso.
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O pioneiro francês que fotografava ao ritmo do comboio

Sérgio C. Andrade
P2, Público (1.05.2010)

A convicção de Ângela Castelo-Branco, a comissária portuguesa da exposição J. Laurent e Portugal - Fotografia do Século XIX, na Torre do Tombo, em Lisboa (até 31 de Maio), é que este pioneiro francês da fotografia (1816-1886), mas que desenvolveu o mais importante da sua actividade a partir de Madrid, onde montou o seu estúdio e se tornou numa espécie de fotógrafo oficial da casa real, visitou e fotografou Portugal em 1869, tendo mesmo ficado por cá até ao início do ano seguinte.

Ainda que não tenham sido até agora descobertos testemunhos que permitam fixar com certeza histórica a data da viagem, a comissária e investigadora da história da fotografia socorre-se de elementos como o calendário do desenvolvimento da rede ferroviária no nosso país para avançar o ano de 1869. "O fotógrafo deslocava-se de comboio devido à quantidade de material necessário para a obtenção dos negativos em vidro de colódio húmido que tinham de ser sensibilizados e revelados no local onde se fotografava", escreve Ângela Castelo-Branco no texto de apresentação da exposição - que, no ano passado, foi apresentada no Centro Português de Fotografia/Cadeia da Relação, no Porto, e que deverá poder vir ainda a contar com um catálogo que documente a importância de Laurent para a história da fotografia.

J. (que pode ser lido Jean ou Juan) Laurent "foi o primeiro fotógrafo a fazer o levantamento paisagístico e patrimonial da Península Ibérica", diz ao P2 a comissária da exposição, relevando "a grande visão comercial" que presidiu a este projecto de "inventário". Publicou em 1872 e 79, no seu Catálogo de los retratos que se vendem en casa de J. Laurent, a série de fotografias que realizara em Portugal. Nelas destacam-se paisagens, retratos (género a que Laurent se dedicou no início da carreira, e que está também ainda pouco documentado) e registos de vários monumentos, mas há também pintura e escultura fotografadas em instituições como as academias reais das Ciências e de Belas-Artes, em Lisboa.

Mas são principalmente os monumentos mais conhecidos do património português que foram documentados pela objectiva de Laurent, e que na Torre do Tombo podemos agora revisitar, recuando à segunda metade do século XIX: o Palácio de Monserrate, em Sintra, os Jerónimos, em Lisboa, os mosteiros da Batalha e de Alcobaça, a igrejas de Santa Cruz, em Coimbra, dos Clérigos, no Porto, ou do Bom Jesus, em Braga...

Para além de Castelo-Branco, a exposição J. Laurent e Portugal (integralmente constituída por imagens originais, e que inclui também algumas "vistas" de Espanha) é igualmente comissariada por Alexandre Ramires e pelo espanhol Carlos Teixidor, curador dos espólios fotográficos de J. Laurent, que estão depositados no Instituto do Património Cultural de Espanha e no arquivo Ruiz Vernacci, em Madrid.
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1 comentário:

  1. Possuo uma pequena coleção de fotos de época de Jean Laurent ,charles Clifford e Wenceslau Cifka, a qual pondero vender por únidade ou na totalidade, a colecionadores interessados.
    Contactar via mail : amandio_marecos@hotmail.com

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